segunda-feira, 10 de novembro de 2025

#01 - ACONTECEU DO NADA - ASILO ARKHAM

04 de Janeiro de 2030 - O INICIO DE TUDO

Meu nome é Bruce, vim visitar meu pai no Asilo - ainda não sei dizer se no dia certo ou no dia errado.

Sei que muita gente vai me julgar por deixar meu pai em um asilo, mas era um lugar maravilhoso. Repleto de área verde, muitas enfermeiras e câmeras, no qual os familiares podiam acompanhar o dia a dia de seus pais e avós - de onde é que estivessem.

Neste Asilo têm - ou melhor dizendo - tinha, um programa muito interessante de voluntários de apoio e companhia aos idosos. O Asilo foi estruturado como um clube campestre aberto ao publico que se cadastravam como voluntários, e podiam aproveitar o clube e todos os seus benefícios - mas também, faziam companhia para os idosos que aqui moravam. 

A iniciativa de criação desses clubes tinha também o intuito de dar assistência de moradia as pessoas que precisavam de ajuda em caso de grandes crises. 

Com uma arquitetura que mistura a praia e a fazenda - tinha lagos para pesca, animais de fazenda como vacas, cavalos e galinhas. Os voluntários cuidavam de tudo, com uma pequena equipe administrativa e de médicos e enfermeiras que eram os responsáveis por acompanhar e comandar o local.

Também possuía um pequeno mercado, padaria, enfermaria, auditório e um grande deposito com Shelter Box (Ajuda humanitária) e uma área adaptada para recebimento e distribuição de doações de forma muito bem planejada logisticamente. 

O local permitia viver quase como longas férias, repleto de pessoas curtindo o espaço e conversando e aprendendo com os idosos - enquanto trocavam suas horas de voluntariado por horas de lazer. 

Tudo estava indo muito bem, a cada quinze dias visitava meu pai que deixei aqui devido as responsabilidades do mundo moderno. Dei muito foco ao trabalho e trabalhava por 15 a 16 horas por dia na busca de ganhar mais dinheiro. Ate ontem, acreditava estar percorrendo o caminho certo - mas no dia 04/01/2030 tudo mudou. 

O portão estava escancarado. Estranhei, mas segui em frente — era só mais um dia corrido. Cheio de coisas na cabeça e com pressa pra visitar meu pai e seguir para o trabalho, cheguei no Asilo e tudo o que percebi foi os idosos praticamente abandonados, olhando e conversando nos corredores sem energia tentando entender. Procurei pela equipe ou por alguém que poderia esclarecer o que estava acontecendo. Corri pelos corredores ate o quarto do meu pai - que me contou o que estava nos jornais.  

- Há anos não assistia TV. Na verdade - não assistia jornais - sempre muito sangue e informações repletas de posicionamento politico e ate mesmo Fake News - por terem sido enganados (mais uma vez) por um vídeo falso de IA. 

Meu pai então me contou que os cães de rua começaram a atacar as pessoas de uma hora pra outra. muitas pessoas mortas e feridas na rua. Muitos acidentes de carros, postes derrubados, falta de energia, sistema de emergência e hospitais lotados. 

Ouvi alguns gritos no corredor e corri para ver o que era, havia entrado um cachorro de rua e estava atacando uma senhora - acho que o nome dela era Diana, se não me engano - nunca tinha visto uma cena tão violenta e assustadora. O cão, um vira-lata estava alucinado na violência. Mordia e rasgava a senhora com tanta ferocidade, chacoalhando-a de um lado pro outro. Ele estava coberto de sangue - que não era seu - e olhos raivosos e literalmente espumando pela boca. Parecia imponente e mais selvagem do que jamais vi em um animal. 

Peguei o extintor de incêndio e o usei contra o animal, que nada fez. Então comecei a bater no animal com o próprio extintor, esmagando sua cabeça - enquanto ele ainda se estremecia e tentava avançar sobre mim - em seus últimos reflexos. 

Fui ver como a Senhora Diana estava, mas também já estava nas ultimas, sufocando no próprio sangue devido a mordida no pescoço, além da perda gigante de sangue nas diversas lacerações que obteve nos braços, pernas e corpo. Gritei e pedi por ajuda, apenas os idosos tentavam se aproximar para ajudar de alguma forma, mas já era tarde - Diana estava morta. 

Olhei brevemente para o jardim da frente e vi mais um cão correndo em nossa direção, no Hall - num ataque selvagem e imparável - comecei a escorregar em todo aquele sangue, enquanto tentava fechar a portaria do Asilo e engatinhando de quatro e empurrando meu corpo com todas as minhas forças e desespero daquele momento - bati a porta de entrada no trinco - o que fez o cão estraçalhar o vidro da porta, mas morrer devido tamanho a pancada e a força que bateu nas grades.

Pedi aos idosos que estavam ali que ligassem para a policia, bombeiros, ambulâncias. 

Corri com cautela ate o portão da frente - o destravei manualmente - empurrei com cuidado, observando as ruas e tudo o que estava acontecendo lá fora. Incrédulo do que estava ocorrendo e como acabei não percebendo enquanto percorria meu trajeto ate o Asilo. Ate entendo, em minha desculpa, que com toda a violência, quantidade de acidentes e a falta de segurança - achei que o caos que não observei - estava como pode ser dito, "mais um dia normal". 

Acho que ainda não havia entendido o que estava acontecendo precisamente. Tentei ligar para meu chefe e colegas de trabalho para avisar que iria faltar. Obviamente, telefones não chamaram, ninguém me atendeu.


ADAPTAÇÃO 

Tudo o que eu tinha era meu pai e dinheiro no banco, ou seja, neste momento comecei a perceber que só tinha meu pai no fim das contas. Internet, telefone, cartões, supermercados. Nada estava funcionando e provavelmente tudo o que batalhei e perdi meu tempo nos últimos 13 anos foi jogado no lixo - principalmente meu tempo de vida.

Cobrimos a Senhora Diana com lençóis e colocamos os cães próximo ao muro, perto da entrada. Limpamos aquele sangue. E um dos idosos - Senhor Rafael - começou a desmaiar. Pensei a principio que era devido a toda aquela cena e acontecimento - ate que fui interrompido pelo próprio senhor Rafael dizendo que já havia presenciado cenas mais tristes e absurdas durante a sua vida, mas que precisava de sua insulina. Senhor Michel chegou imediatamente com a Insulina e aplicamos no Senhor Rafael para que ficasse bem. Começou a se recuperar sentado na poltrona do Hall de entrada e os Idosos começaram a se organizar - para comandar o lugar. 


Muito das vezes, tratamos os mais velhos como pessoas que estão dependentes de cuidado - o que não é errado - mas esquecemos que são 60, 70, 80, 90 anos de conhecimento e de vivencia no mundo, no qual  acabamos de chegar. Alguns desses idosos tem quase 3x minha idade ... seria como eu ter vivido tudo o que vivi, três vezes com conhecimento acumulado e muita sabedoria. 

Obviamente o que perdem - principalmente por deixar de cuidar da saúde na juventude - é a própria juventude e o corpo cobra com velocidade diminuída, dores e necessidade de remédios frequentes para suprir tudo o que o corpo e a idade já praticamente não produzem mais. 

Organizamos o ambiente - tentando entender os remédios e horários de cada um - não é hora de precisar ir para o hospital - não ia dar. 

Alguns idosos, chefes de cozinha durante a vida - assumiram a cozinha, outros que viveram da roça a vida inteira, foram cuidar dos animais. Administradores e bancários foram conferir e entender os estoques, ex Médicos e Enfermeiras foram para a enfermaria do clube e ficaram responsáveis pelos medicamentos e eu, meu pai - ex policial - e alguns mais "jovens" (ou menos idosos) e fortes ou que também foram policiais, ex militares e ex seguranças,  ficamos responsáveis por verificar o ambiente e ver como podíamos manter o local seguro e pedir ajuda externa. 

Apesar do Asilo ser nos limites da cidade - ainda assim, estava praticamente dentro da cidade, nos corredores não era possivel ouvir o mundo lá fora, mas próximos aos muros - escutávamos os gritos de desespero e dor das pessoas sendo atacadas, tiros e explosões ao fundo, e rosnados, latidos, uivos e correria dos animais no nosso entorno. Os Idosos que estavam comigo nesta 'ronda' pareciam estar de boa com os sons, dava pra perceber que sentiam a lastima de não conseguiram auxiliar as pessoas lá fora, mas também dava pra perceber que a violência e cenas tristes não os afetavam tanto assim. 

Aproveitei para ir caminhando levemente com meu pai e perguntei se não estava assustado com tudo aquilo, no qual me contou algumas historias de vida que fiquei incrédulo e jamais imaginei meu pai vivendo aquilo tudo -  o que explicava um pouco do seu silencio corriqueiro na vida e também sua pouca alteração de estado emocional ao presenciar tudo aquilo. 

AMBIENTE SEGURO

Dias foram se passando - "ilhados" naquele clube, começaram a aparecer algumas pessoas em busca de ajuda, outras partiam em busca de familiares no qual não se tinha noticias, quase ninguém era filho ou neto daqueles idosos que estavam ali. O que gerou uma sensação da abandono e medo da perda - questionavam se seus familiares os haviam abandonado, ou se não haviam sequer sobrevivido aos ataques. De qualquer maneira a falta de noticias era desesperadora.

Os sobreviventes que ali apareciam, dia após dia - chegavam questionando se era ali o "famoso ASILO ARKHAM" - não entendemos muito no inicio, ate que nos explicaram que haviam conhecido por este nome devido eu, que tentava ajudar, me chamar Bruce (nome do Batman) e se espalhava por ai que era um local seguro, que poderia dar e receber ajuda. O local começou a ser reconhecido por sua autossuficiência e

Ainda hoje estamos mantendo as coisas funcionando por aqui, dezenas de pessoas ajudam na comunidade e diversas pessoas e principalmente crianças estão bem. Ajuda do governo, ou militar, nunca apareceram. 

Continuamos sobrevivendo - com pouquíssimas necessidades de combater aos cães. Raríssimas as vezes precisamos sair desses muros. Nossos Muros altos e portões resistentes e chapeados não deixam os cães entrarem e dificulta muito pessoas ruins invadirem -  todas as vezes que ocorreu - conseguimos resolver. Deve ser por isso que "ARKHAM" tem se tornado os últimos recursos para aqueles que mais precisam. 


[#APENDICE DO LIVRO]